segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

FERNANDA MONTENEGRO representa, reflete e respinga NOSSO CINEMA BRASILEIRO em sua aparição no sensível e profundo: 'A Vida Invisível'.
Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)

'A Vida Invisível': representante do Brasil no OSCAR/2020.

Um dos deleites em ser CINÉFILA é apreciar a conexão que surge entre Literatura e Cinema. A película 'A Vida Invisível' dirigida por Karim Aïnouz se baseia no livro de Martha Batalha e gira em torno da evocação ancorada na forte relação de cumplicidade entre duas mulheres diante de um mundo PATRIARCAL que teima em sufocar seus sonhos. Duas irmãs que são separadas,  abruptamente, diante de relações complexas, aprendem de forma dolorosa a lidar com o machismo vulnerável empregando a suavidade feminina que dribla toda forma de tristeza, descolamento e dor.

Película Cinematográfica impecável nas atuações, fotografia e na tentativa de equilibrar o horror daquelas vidas através da delicadeza que sugere superação. 'A Vida Invisível' reflete a experiência tocante e envolvente em ser e fazer CINEMA NACIONAL: Fernanda Montenegro (...)


sábado, 14 de dezembro de 2019

Parasita ou Parasitados?


Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)

Dirigido por Bong Joon-ho 'Parasita' é uma obra operística da Sétima Arte que traz a visão sul-coreana e universal a partir de um roteiro enxuto com requintes de humor negro e até uma leve e divertida projeção na sua primeira metade. 'Parasita' parte de um porão frio num bairro miserável onde trabalhos ocasionais são mais que oportunos. Mera coincidência com o Brasil?
Parasita simboliza estratégias nada éticas em se mostrar como um drama sensível ao retratar a realidade de muitos numa escalada desigual numa sociedade desabrigada e escalada numa mobilidade social impossível de ser.
Parasita não comete o erro maniqueísta em afirmar que rico é ruim e pobre é bonzinho. Essa película evidencia que o viver em sua complexidade exige criatividade e sutileza. Neste sentido, 'Parasita' é uma obra cinematográfica focada na luta de classes onde o espectador vivencia a complexidade ao demonstrar o óbvio que muitos teimam em negar: que não são os mais afortunados que insistem em viver de explorar os mais necessitados!!

Bacurau em suas referências é Euclides da Cunha: antes de tudo, um forte.
Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)

"QUEM NASCE EM BACURAU É O QUÊ?"

'Bacurau', longa metragem de Kleber Mendonça Filho, se desenrola no sertão nordestino em algum futuro incerto. É uma distopia surreal com sinais sintomáticos como o próprio nome da cidade - Bacurau é um pássaro. Bacurau necessita de recursos e sofre com a falta d'água (nós sertanejos conhecemos bem essa falta) e seus habitantes foram criticados por fugir daquela beleza "convencional" do CINEMA. EM Bacurau não há heróis e sim um anti-herói, necessário no personagem andrógeno de Lunga (Silvero Pereira). Um tipo Mad Max do sertão.
Esse filme se consolida como mais uma pérola do nosso cinema brasileiro com uma mistura teimosa de gêneros literário e cinematográfico numa fórmula que dá certo. Seus habitantes são gentis, mas também desconfiados. Numa cena etérea o repentista da cidade não recebe o dinheiro oferecido pela mulher branca como esmola, revelando assim em sua música a arrogância e prepotência dos ricos no Brasil e nesse gesto escancara a superioridade colonialista opressora que há anos se gaba de "xerife do Globo".
Bacurau é sertão de Pernambuco, é Brasil, é repentismo que transforma em piada àqueles que se sentem convictos de ter PODER sobre um povo.
Bacurau é DENÚNCIA e crítica que na sua suposição se reinventa num novo Nordeste, potente.
Bacurau é Euclides da Cunha: antes de tudo, um forte. E a bela canção de Geraldo Vandré de nome 'Réquiem para Matraga' (ponto alto da projeção) comprova essa análise. Filme oportuno no momento que em suas várias referências se consolida como um CONCEITO de CINEMA.
Então... 'Quem nasce em Bacurau é o quê?'
'É gente', ora!
Obs.: O menino estava certo (...)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Ao Romântico Que Interessar (...)
Filme: Hannibal
Vanessa Castro (Cinema & Psicanálise)

Muita gente tem a impressão de que HANNIBAL vem antes e não como uma seqüência do INESQUECÍVEL romance cinematográfico PSICOLÓGICO - O SILÊNCIO DOS INOCENTES, do depudorado Jonathan Demme. Alguns fãs extremados consideram-no a terceira parte da trilogia do Dr. Lecter, que na verdade começa com o excelente DRAGÃO VERMELHO.
De certa forma, vejo HANNIBAL como uma história romântica, escura e trágica, mas, por debaixo de sua suprfície de violência, suspense e terror... Fascina-me esta história de amor impossível e seu inegável senso de humor negro. Dois personagens que não podem separar-se na vida, e, mesmo existindo um abismo entre eles, são espíritos afins. Um é o acerto do outro na honradez, incorruptibilidade, verdade e SANIDADE MENTAL. O outro é a metamorfose de seu ponto de vista distorcido de HUMANITÁRIO.
Thomas Harris criou um rico e hipnotizante romance para ser transformado em película CINEMATOGRÁFICA nas mãos e visão de Jonathan Demme, Ridley Scott e Michael Mann. E num delicioso estilo clássico e enigmático, percebe-se que as melhores cenas são aquelas que permanecem em nossos TERRITÓRIOS PSICOLÓGICOS. Esta película é um legado de suspense psicológico e intelectual e um embate de intligência entre os protagonistas, numa trama linear, porém, cheia de surpresas.
Sempre me entristece o final de um filme, e quando este é elaborado dentre parâmetros técnicos e cinematograficamente corretos, aliado a visão junguiana de um vilão que suprime o mocinho...
HANNIBAL, película emocionante em habilidades faciais e motoras, estilo clássico e louco, penetrante e envolvente numa mente psicótica (Anthony Hopkins): Ótimo.
Obra cinematográfica fleumática, com personagens soberbos e atmosfera frenética.
Sendo assim, apaguem as luzes, tranquem suas portas psicológicas e BUON APPETITO (...)
Pizzo breve!
Vanessinha, uma cinéfila

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Um dos melhores livros que já li. Como todo romance monumental de Victor Hugo, 'O Homem que Ri' fornece a vastidão de vários romances no que me permitiu como leitora - descobrir, combinar como quiser as costuras que une a Arte Literária e Cinematográfica. Dessa permissão entendi o porquê da parturiência da obra operística contida no filme 'Coringa' ter se inspirado nessa pérola hugoana para tecer, visualmente,  seu personagem talhado com um sorriso que carrega ao mesmo tempo as dimensões trágica e cômica de experienciar o vivido. Fechei o livro agora!! E que The End...MEU DEUS !!

NOS BASTIDORES DO DIÁLOGO PAPAL: Jorge Bergoglio e Joseph Ratzinger
Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)
O cineasta brasileiro Fernando Meirelles oferece talvez, seu filme mais eloquente com 'Dois Papas'. A ideia é fazer prevalecer através do diálogo a simbologia do papado como a necessidade real do significado de Cristo crucificado num mundo tão dividido. No filme não apenas internalizamos o poder precioso da comunicação, mas também nos elevamos enquanto seres humanos que nos regozijamos em ouvir e cantar "Dancing Queen" do Abba e a linda "Bella Ciao" bem ao estilo argentino. É uma dádiva sentar numa poltrona de uma certa sala de projeção cinematográfica para assistir a atuação incorrigível de um tal Anthony Hoppinks e Jonathan Pryce num sentido prazeroso de respeito mútuo como Bento e Bergoglio em seus inúmeros pontos de vista diferentes.
Profundamente humano, 'Dois Papas' é um duelo verbal sem necessidade de vencedores regido por belas canções como "Besame Mucho" e "Guantanamera" e "Ave-Maria Barroca" com fartas doses de um delicioso humor virtuoso nos personagens. Os flashbacks da adolescência do Papa Francisco I são orgânicos sem esquecer a explicação do mesmo ao comparar a necessidade do coletivo tanto no futebol como na própria RELIGIÃO. 
Se há controvérsias...bem, faz parte do jogo. É preciso saber ouvir para só depois comunicar. No CINEMA ver é o óbvio até porque a tarefa mais importante é ouvir e entender. Ouçam, então, essa pérola cinematográfica do nosso querido Fernando Meirelles (...)


A RISADA DO PALHAÇO


A RISADA DO PALHAÇO


Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)

"A PIOR COISA DE SE TER UMA DOENÇA MENTAL É QUE AS PESSOAS ESPERAM QUE VOCÊ AJA COMO UMA PESSOA NORMAL"

Joaquin Phoenix entrega seu ´Coringa` como uma carta de amor ousada e corpulenta para o CINEMA. O filme, contado através das lentes do personagem Arthur Fleck/Coringa é - escuro, perturbador, brutal e triste. Trata-se de um homem abusado que não começa a viver até que esteja morto por dentro. ´Coringa`, dirigido e roteirizado por Todd Phillips vai além de um filme sobre quadrinhos - trata-se de uma história suja, corajosa e transgressora, tão condizente com a essência de seu personagem-título.
O processo de criação desse Coringa nasce da obra literária do escritor Victor Hugo em `O Homem que Ri` (1869) e filme de mesmo título (1928). Também traz referências `A Piada Mortal`. Um homem talhado com um sorriso forçado aliado a uma doença neurológica que em momentos de ansiedade o faz ri inapropriadamente (em Psicologia denomina-se: Epilepsia Gelástida ou Afeto Pseudobulbar).
Esta película é a evolução de um minucioso estudo psicológico do personagem. Acompanhamos a saga de Arthur Fleck que vai de uma meiguice inicial rumo a uma personalidade cada vez mais psicótica. Joaquin Phoenix está soberbo em suas amarras multifacetadas que provocam espanto e medo em fartas doses. Pouco a pouco, o subtexto social e político vai contribuindo para a transformação de Fleck em Coringa. Uma sociedade moderna e orgânica que oprime e não dialoga com a memória coletiva e individual dos mais necessitados. Inspirado em filmes sintomáticos como `Taxi Driver` e `O Rei da Comédia` com suas ruas e becos em fotografias sujas e desconcertantes chama a atenção as cores recorrentes em tom pastel, vivas e brilhantes que casam com a depressão e a euforia de um homem amargurado e fracassado.
`Coringa` é violento numa efervescência política vibrante construído a partir de um fundo psicológico calcado na vida real de uma Gotham City que se assemelha ao viver contemporâneo urbano das grandes metrópoles com suas falhas que contribuem para desigualdades sociais em enormes proporções. O longa é um filme singular sobre a loucura e a sociedade na visão dos esquecidos e renegados de oportunidades com um Joaquin Phoenix num papel instável, louco e uma inocência macabra em seus movimentos físicos num corpo frágil e sustentado em sua insanidade.
A crise do mundo moderno está na falta do poder da palavra onde o ser humano não encontra eco para ser compreendido e assim o homem gargalha angustiado numa viagem ao coração das trevas e a metáfora do lixo no filme dá vazão aos que se sentem rejeitados e daí a eclosão da violência reprimida das massas. Com atuação sensível e foco no personagem, `Coringa` é uma obra-prima operística da Sétima Arte, incômoda a nível consciente e inconsciente, deixando um legado que jamais será esquecido numa risada. O Palhaço do Crime, se reinventou e se superou!
Que venha o Oscar, Joaquin Phoenix, que então mostrarei o meu sorriso de CINÉFILA!!! Obrigada (...)