sábado, 14 de dezembro de 2019

Parasita ou Parasitados?


Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)

Dirigido por Bong Joon-ho 'Parasita' é uma obra operística da Sétima Arte que traz a visão sul-coreana e universal a partir de um roteiro enxuto com requintes de humor negro e até uma leve e divertida projeção na sua primeira metade. 'Parasita' parte de um porão frio num bairro miserável onde trabalhos ocasionais são mais que oportunos. Mera coincidência com o Brasil?
Parasita simboliza estratégias nada éticas em se mostrar como um drama sensível ao retratar a realidade de muitos numa escalada desigual numa sociedade desabrigada e escalada numa mobilidade social impossível de ser.
Parasita não comete o erro maniqueísta em afirmar que rico é ruim e pobre é bonzinho. Essa película evidencia que o viver em sua complexidade exige criatividade e sutileza. Neste sentido, 'Parasita' é uma obra cinematográfica focada na luta de classes onde o espectador vivencia a complexidade ao demonstrar o óbvio que muitos teimam em negar: que não são os mais afortunados que insistem em viver de explorar os mais necessitados!!

Bacurau em suas referências é Euclides da Cunha: antes de tudo, um forte.
Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)

"QUEM NASCE EM BACURAU É O QUÊ?"

'Bacurau', longa metragem de Kleber Mendonça Filho, se desenrola no sertão nordestino em algum futuro incerto. É uma distopia surreal com sinais sintomáticos como o próprio nome da cidade - Bacurau é um pássaro. Bacurau necessita de recursos e sofre com a falta d'água (nós sertanejos conhecemos bem essa falta) e seus habitantes foram criticados por fugir daquela beleza "convencional" do CINEMA. EM Bacurau não há heróis e sim um anti-herói, necessário no personagem andrógeno de Lunga (Silvero Pereira). Um tipo Mad Max do sertão.
Esse filme se consolida como mais uma pérola do nosso cinema brasileiro com uma mistura teimosa de gêneros literário e cinematográfico numa fórmula que dá certo. Seus habitantes são gentis, mas também desconfiados. Numa cena etérea o repentista da cidade não recebe o dinheiro oferecido pela mulher branca como esmola, revelando assim em sua música a arrogância e prepotência dos ricos no Brasil e nesse gesto escancara a superioridade colonialista opressora que há anos se gaba de "xerife do Globo".
Bacurau é sertão de Pernambuco, é Brasil, é repentismo que transforma em piada àqueles que se sentem convictos de ter PODER sobre um povo.
Bacurau é DENÚNCIA e crítica que na sua suposição se reinventa num novo Nordeste, potente.
Bacurau é Euclides da Cunha: antes de tudo, um forte. E a bela canção de Geraldo Vandré de nome 'Réquiem para Matraga' (ponto alto da projeção) comprova essa análise. Filme oportuno no momento que em suas várias referências se consolida como um CONCEITO de CINEMA.
Então... 'Quem nasce em Bacurau é o quê?'
'É gente', ora!
Obs.: O menino estava certo (...)