segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Um dos melhores livros que já li. Como todo romance monumental de Victor Hugo, 'O Homem que Ri' fornece a vastidão de vários romances no que me permitiu como leitora - descobrir, combinar como quiser as costuras que une a Arte Literária e Cinematográfica. Dessa permissão entendi o porquê da parturiência da obra operística contida no filme 'Coringa' ter se inspirado nessa pérola hugoana para tecer, visualmente,  seu personagem talhado com um sorriso que carrega ao mesmo tempo as dimensões trágica e cômica de experienciar o vivido. Fechei o livro agora!! E que The End...MEU DEUS !!

NOS BASTIDORES DO DIÁLOGO PAPAL: Jorge Bergoglio e Joseph Ratzinger
Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)
O cineasta brasileiro Fernando Meirelles oferece talvez, seu filme mais eloquente com 'Dois Papas'. A ideia é fazer prevalecer através do diálogo a simbologia do papado como a necessidade real do significado de Cristo crucificado num mundo tão dividido. No filme não apenas internalizamos o poder precioso da comunicação, mas também nos elevamos enquanto seres humanos que nos regozijamos em ouvir e cantar "Dancing Queen" do Abba e a linda "Bella Ciao" bem ao estilo argentino. É uma dádiva sentar numa poltrona de uma certa sala de projeção cinematográfica para assistir a atuação incorrigível de um tal Anthony Hoppinks e Jonathan Pryce num sentido prazeroso de respeito mútuo como Bento e Bergoglio em seus inúmeros pontos de vista diferentes.
Profundamente humano, 'Dois Papas' é um duelo verbal sem necessidade de vencedores regido por belas canções como "Besame Mucho" e "Guantanamera" e "Ave-Maria Barroca" com fartas doses de um delicioso humor virtuoso nos personagens. Os flashbacks da adolescência do Papa Francisco I são orgânicos sem esquecer a explicação do mesmo ao comparar a necessidade do coletivo tanto no futebol como na própria RELIGIÃO. 
Se há controvérsias...bem, faz parte do jogo. É preciso saber ouvir para só depois comunicar. No CINEMA ver é o óbvio até porque a tarefa mais importante é ouvir e entender. Ouçam, então, essa pérola cinematográfica do nosso querido Fernando Meirelles (...)


A RISADA DO PALHAÇO


A RISADA DO PALHAÇO


Vanessa Castro (Nota da cinéfila: ⭐⭐⭐⭐⭐)

"A PIOR COISA DE SE TER UMA DOENÇA MENTAL É QUE AS PESSOAS ESPERAM QUE VOCÊ AJA COMO UMA PESSOA NORMAL"

Joaquin Phoenix entrega seu ´Coringa` como uma carta de amor ousada e corpulenta para o CINEMA. O filme, contado através das lentes do personagem Arthur Fleck/Coringa é - escuro, perturbador, brutal e triste. Trata-se de um homem abusado que não começa a viver até que esteja morto por dentro. ´Coringa`, dirigido e roteirizado por Todd Phillips vai além de um filme sobre quadrinhos - trata-se de uma história suja, corajosa e transgressora, tão condizente com a essência de seu personagem-título.
O processo de criação desse Coringa nasce da obra literária do escritor Victor Hugo em `O Homem que Ri` (1869) e filme de mesmo título (1928). Também traz referências `A Piada Mortal`. Um homem talhado com um sorriso forçado aliado a uma doença neurológica que em momentos de ansiedade o faz ri inapropriadamente (em Psicologia denomina-se: Epilepsia Gelástida ou Afeto Pseudobulbar).
Esta película é a evolução de um minucioso estudo psicológico do personagem. Acompanhamos a saga de Arthur Fleck que vai de uma meiguice inicial rumo a uma personalidade cada vez mais psicótica. Joaquin Phoenix está soberbo em suas amarras multifacetadas que provocam espanto e medo em fartas doses. Pouco a pouco, o subtexto social e político vai contribuindo para a transformação de Fleck em Coringa. Uma sociedade moderna e orgânica que oprime e não dialoga com a memória coletiva e individual dos mais necessitados. Inspirado em filmes sintomáticos como `Taxi Driver` e `O Rei da Comédia` com suas ruas e becos em fotografias sujas e desconcertantes chama a atenção as cores recorrentes em tom pastel, vivas e brilhantes que casam com a depressão e a euforia de um homem amargurado e fracassado.
`Coringa` é violento numa efervescência política vibrante construído a partir de um fundo psicológico calcado na vida real de uma Gotham City que se assemelha ao viver contemporâneo urbano das grandes metrópoles com suas falhas que contribuem para desigualdades sociais em enormes proporções. O longa é um filme singular sobre a loucura e a sociedade na visão dos esquecidos e renegados de oportunidades com um Joaquin Phoenix num papel instável, louco e uma inocência macabra em seus movimentos físicos num corpo frágil e sustentado em sua insanidade.
A crise do mundo moderno está na falta do poder da palavra onde o ser humano não encontra eco para ser compreendido e assim o homem gargalha angustiado numa viagem ao coração das trevas e a metáfora do lixo no filme dá vazão aos que se sentem rejeitados e daí a eclosão da violência reprimida das massas. Com atuação sensível e foco no personagem, `Coringa` é uma obra-prima operística da Sétima Arte, incômoda a nível consciente e inconsciente, deixando um legado que jamais será esquecido numa risada. O Palhaço do Crime, se reinventou e se superou!
Que venha o Oscar, Joaquin Phoenix, que então mostrarei o meu sorriso de CINÉFILA!!! Obrigada (...)