Chronos
& Kairós
Oscar Wilde será sempre a melhor referência para os que cantam e buscam
compreender a ação inexorável do tempo. Seu "the picture of Dorian
Gray" foi a primeira obra que dele li , querendo mergulhar na alma
anglo-irlandesa. Dentro da alma inglesa mergulhei, e lá, acreditei que esta
em nada se distancia da alma brasileira quando o que queremos é
questionar -sem resposta- a fugacidade da matéria, a rapidez dos
minutos, o escoamento das horas, o surgimento das rugas, o momento único do
encontro, o transcurso certeiro do tempo... É reconhecendo a invencível força
do tempo kairós, que curvando-me a ele -ainda que sempre em atraso -, ofereço à
Chronos alguns minutos para cantar Afrodite, no altar da beleza. Por isso,
escrevo...
...E
se escrevo assim, mais para filosofia do que para literatura, é porque a vejo
não como uma criação fictícia de um autor, mas, para colocar-me
"porquês", estes, tão próprios à filosofia. São tantos porquês, que
alinhados, serviriam àqueles poemas dos anos 40 e agora aos "haikais"
japoneses. São tantos "porquês", que lembro-me de Shakespeare
-"a todo porque corresponde um portanto", e lembrando-me dele, tento
entender porque tenho tantos questionamentos, onde não me contenho num
espaço meu próprio. Tento compreender a linguagem elíptica cinematográfica que
fala em 33 rotações e vive mergulhada nas letras e nas imagens.
O que dizer? Dizer que minha vida segue; que a vida
é uma sucessão de acertos e desacertos; comédia de erros; encontros e
desencontros; nada absoluta e definitivamente relativizada nos senões do
dia-a-dia, nos que partem sem prévio aviso, nos que deixam saudades (palavra
esta relativa á pátria única, no entanto, exprime um sentimento universal), nos
que nos sorriem, acenam em uma rua que guarda uma livraria, e não os vemos
mais. Por isso, cantemos toda a transitoriedade e vivamos felizes o
momento. "Amo o amor dos marinheiros", dissera Neruda, "deixam
uma promessa e nunca mais retornam".
Tentei aplicar Neruda. Não quis tomar-lhe tempo. Não posso deixar de
dizer o que penso e como vejo a tela da vida para além da projeção: tela linda,
por dentro e por fora, encantadoramente inteligente, sempre (...)
Sempre
é bom se ter a visão privilegiada das retinas...
O cinema é como um espelho providencial a mim em
tais circunstâncias...
Vanessa Castro (Uma anônima cinéfila)!